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será que as palavras têm de ser merecidas?

  • Foto do escritor: Sofia Dias
    Sofia Dias
  • 7 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de ago. de 2024

no outro dia, pus-me a pensar: será que as palavras têm de ser merecidas?


há duas vertentes para responder a esta pergunta, conclui. a vertente que a inclui num âmbito social e político, onde a raiz da questão se baseia na qualidade de merecer ou não estar exposto a arte. ora, como não sou uma protofascista, é óbvio que todos têm o direito de ser espetadores de palavras, de todas elas, sem lápis azul. a outra vertente é a que inclui o tema no ram ram das emoções e aí não tenha a certeza se sou ou não uma protofascista do coração.


acho que este ano foi um ano decisivo no que toca à minha atitude perante as relações que estabelecia. a par disso, tornei-me mais rancorosa, sei disso, mas menos ingénua. decidi, então, que as pessoas pelas quais me deixei de engraçar deixariam de ler o que escrevo. tal decisão tornou-se algo interessante para o meu cérebro, porque foi algo que não esmiucei, simplesmente foi parido pelo que senti. mas vou fazê-lo agora.


de certa forma, penso que lerem o que escrevo é continuarem a estabelecer uma relação comigo, a saberem o que vai na minha cabecinha, o que sinto, o que me magoa e o que me faz sentir bem. depois de as expulsar do meu círculo relacional, não faz sentido que se continuem a inteirar de todas estas coisas, a conhecer o meu íntimo. claro que isto é, também, um jogo de poder, não lhes quero dar o poder de me magoarem outra vez, para além de que pararem de saberem coisas intimas sobre mim me dá o poder de não compararem os meus níveis de felicidade antes ou depois de pararmos de partilhar existires, com medo de acharem que o meus índices de felicidade diminuíram e os deles aumentaram.


tudo isto, eu sei, é extremamente mesquinho e insignificante, mas não terei eu o direito de escolher a quem dirijo as minhas palavras? de escolher quem tem acesso a elas? eu cá acho que sim…


contudo, algo está a escapar nesta análise. o pessoal é político. ao ser protofascista do coração, não estou eu a ser protofascista de escrita em si? talvez sim. talvez esteja a retirar o acesso à leitura universal a certas pessoas. ou talvez me leve demasiado a sério e escolher quem lê ou não os meus sentimentos é simplesmente algo que me pertence. mas e se todos os escritores censurassem as suas palavras aos seus desamigos? estaria isso certo? não, mas eu não sou escritora. não? sofia, não te achava uma objetivista estética, minha menina. tudo é arte, não? eu sei lá, caraças.


é certo de que tudo o que é pessoal é político, mas penso que ainda não cheguei ao nível de maturidade para não ser protofascista do coração e simplesmente mandar foder esta gente toda.

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