Luísa
- Sofia Dias
- 12 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Luísa.
Luísa é um nome muito bonito.
A Luísa é uma menina muito sensível, que pergunta se os peixes pequeninos sentem dor quando são engolidos por tubarões, que dá beijinhos nos dói dóis, que usa muitos diminutivos, que sabe o que é o Amor e o que é ter nódoas negras facilmente.
A doçura é mesmo doce na escrita. É o bolo cheio de chocolate enjoativo, mas que se come todo. Eu adoro doçura na escrita. Aconchega os meus medos e acalma as minhas noites. Faz-me lembrar que às vezes os monstros vivem só na minha cabeça e não debaixo da minha cama. Faz-me lembrar que o mundo pode ser doce, apesar de saber tanto a amargo. A fel.
Mas o mel que anda por aqui é bom, é daqueles biológicos cá do Alentejo, que vêm num frasco. Os meus livros preferidos têm muito mel, que se come com queijo fresco.
A Inês, por exemplo, escreve com muito mel, cola as palavras com aquele líquido pegajoso e, no final, ficam sempre bonitas. Há algum tempo, prometi-lhe uma carta. Carta esta em que tinha pensado vomitar-lhe, também, coisas açucaradas. E eu nunca fui daquelas cobardes que diz que tem muito para dizer e que depois confessa que lhe faltam as palavras, mas acho que não vou usar as minhas para lhe responder. Hoje, disse-me que estava presa na escrita. Perguntei-lhe sobre o que queria escrever e respondeu-me isto:
(quero escrever…)
“sobre o candeeiro de teto que parece girar sempre que olho para ele a partir da minha tristeza.
sobre as manchas pretas que vejo sempre que fecho os olhos, e que quando era pequena era o prenúncio de noites com pesadelos.
mas acima de tudo quero escrever no meu diário sobre os últimos dias.
odeio quando acumulo dias para escrever e depois me sinto assoberbada para não me esquecer de nada.”
E, pronto, já está. Já escreveu. Isto podia ser uma página numa coleção de poemas a la Adília Lopes, Filipa Leal, Matilde Campilho e ninguém notaria. Mas eu percebo-a. A escrita, às vezes, frustra.
Há dias que quero escrever um texto sobre a história das minhas antepassadas bruxas loucas, com histórias de comas vencidos, pais nossos para celebrar a vitória face a esses comas e mortes fingidas, mas ainda não tenho tido essa vontade. É horrível surgir uma ideia e adiá-la quando o nosso método de escrita é escrever quando nos dá na gana. O medo de nunca chegarmos a escrever o que queríamos é grande, mas a preguiça é maior e a nova ideia que surgiu na minha cabeça maior ainda.
Às vezes, somos demasiado duras com as nossas intenções de registar tudo por escrito ou de desenvolver uma ideia engraçada. Acho que é okay escrevermos só palavras bonitas por escrever palavras bonitas. É okay escrever sobre o que se quer escrever sem o fazer necessariamente. É okay o mel ser só mel e desse a Inês tem toda uma colmeia.
A Inês, a Luísa, o mel são todos a mesma coisa. Fazem a escrita e o mundo saber bem, o vinho ser menos azedo e o meu coração muito quentinho. Não quero que desapareçam por entre os parágrafos e os apóstrofos complicados, que dizem ser necessários, mas que só atrapalham.
A doçura, mais que ser doce na escrita, é me precisa.
(Sou uma abelha.
Bzz-zzz-zzz.
Fresca, bela, doce Abelha Maiaaaaaa
Maaaaia voa sem paraaaar
Nooo seu mundo sem maldade
Não. Há. Tristeza. para a nossa Abelha Maiaaaaa
Tão feliz e doce, Abelha Maiaaaaa
Maaaaaia, eu quero-te aquiiiiiii
MAIAAAAA)
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