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lilás

  • Foto do escritor: Beatriz Pereira
    Beatriz Pereira
  • 19 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

É tão estranho como deixamos pessoas de quem gostamos se afastarem das nossas vidas. Não gosto de as ver a ir embora… Queria ter todo o tempo do mundo para conhecer cada uma delas - perguntar-lhes se estão melhor da sua dor no coração; se a sua cor favorita ainda é lilás; se a sua, outrora nova, planta está a crescer de forma saudável.

De vez em quando, recordo-me que não tenho todo o tempo do mundo, por mais que me esqueça que o tempo existe.

É que, às vezes, conhecemos alguém com quem realmente nos identificamos, que nos faz querer falar sobre quinhentos tópicos em simultâneo, e com quem o conceito de tempo não importa. E, então, sorrimos e agitamos as mãos muito rápido porque ambos temos muito para contar. Tu queres conhecer-me na minha mais pura forma - saber com quantos patos eu brincava na banheira; que sonho tive ontem à noite -, e eu quero desintegrar-me em ti, mostrar-te que podes guardar parte de mim num canto do teu corpo e existência.

O problema surge quando a vida aparece, para nos relembrar que estamos longe de viver numa realidade em que os minutos tenham perdido a sua significância. Ela, maldita, relembra-nos que nunca chegaremos a esta fase eufórica com nem 1/4 das pessoas que conhecemos.

Às vezes, nem sempre, ela grita-nos aos ouvidos e diz que não podemos ter tantas pessoas a entrar na nossa vida. Mete-nos uma fita vermelha à frente, e proíbe-nos de visitar as conversas dos quinhentos tópicos. Diz que temos de pagar bilhete. O preço custa demasiados tempos - tempos que eu não tenho, nem consigo ter.


“Volta para trás. Contenta-te com as cinco pessoas com quem já experienciaste isso.” - diz ela, rabugenta e pragmática. A vida é tão aborrecida quando deixamos que ela siga sem lhe colocarmos umas rédeas.


Mas eu não quero limitar-me! Porquê limitar a minha existência?! Quem me impede de levantar a fita vermelha sem pagar os tempos, só para um dia poder perguntar se a tua cor preferida ainda é a mesma?

(Diz-me! Ainda é lilás?! E a tua planta como está? A tua dor no coração passou?)


Não quero saber dos tempos que roubei, nem da invasão de propriedade que cometi. A possibilidade de conversas contigo vale mais que tudo isso. O que farão? Aprisionar-me? Não quero saber. Alimentar-me-ei dos momentos que vivi por uma eternidade. Exijam-me coimas, multas e penas perpétuas. Nada muda. Quero que o tempo morra. Quero que o tempo me deixe em paz.

(Sempre soube que seria para sempre lilás.)

Por ti, quero saltar a fita vermelha. A dívida é um problema meu; talvez o tempo perceba que não perdi tempo nenhum ao matar tempos contigo.

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