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Greve Laboral

  • Foto do escritor: Sofia Dias
    Sofia Dias
  • 13 de nov. de 2022
  • 1 min de leitura

“Perdoa este excesso de paixão. Talvez para ti seja mais difícil, mas eu prometi sempre dizer a verdade, toda gente sabe quem tu és para mim” “Desculpa gostar tanto de ti."

Dia 10, Matilde Campilho.



Estas palavras atravessam algo bicudo no meu coração e fazem-lhe feridas, são diretas, palpáveis, não são abstratas, sinto que as conseguia quase materializar do tão pouco metafísicas que são.


A minha linguagem amorosa séria, guardada para um grupo especial de pessoas, são frases grandes, não são palpáveis e cruelmente honestas, como as que citei em epígrafe. A minha linguagem amorosa séria são composições de palavras, construídas meticulosamente, onde não digo expressamente com as letrinhas todas o “gosto de ti”, porque este pode acabar por ser vetado pelo destinatário e isso deixa-me apavorada. Eu sei, sou como uma criança que se esconde, agarrada às pernas da mãe quando se assusta.


Em vez disso, limito-me a dizer algo do género (limitar, se calhar, não é o verbo correto): "acho que as partículas do meu cérebro organizam uma greve laboral sempre que te vejo e isso fode-me a coordenação".


Eu não percebo metade do que penso ou do que sinto, apenas finjo perceber, por isso não te fies no que te disse. Ainda assim, gosto de fazer metáforas para expressar carinho, falar da melodia dos dedos ou da escoliose é bonito, apesar de romanticamente ridículo e estupidamente cobarde.

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