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função do irregular e do absurdo

  • Foto do escritor: Sofia Dias
    Sofia Dias
  • 26 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

Eu cambaleio na corda bamba da descontinuidade, mergulho naquilo que me é núpero e solto gargalhadas enquanto nado. Eu não fui feita para me apaixonar por algo/alguém segundo a fórmula - f(x) = ax.


Eu fui feita para dançar, para andar em folias, para jogar à apanhada, para brincar, para saltar sem olhar para o chão.


“Sofia, é hoje que vamos ver o mar?”


“É sim, Inês!”


“É que estavas sempre a prometer e a marcar para outro dia, não tinha grandes esperanças de que fosse hoje!”


“É hoje, sim. Prepara o fato de banho!”


Eu fui feita para levar alguém a ir ver o mar e para depois desaparecer nas ondas e deixar que elas me levem diretamente a outro alvo da minha estima. Esta última revela-se fatalmente efémera, levando à repetição de todo o processo.


Tudo interstícios, tudo aproximações, tudo função do irregular e do absurdo. Perfeitamente insaciada com as possibilidade de vidas que o mundo me apresenta.


Talvez o que há de mais cíclico em mim, o que há de mais rotineiro seja a minha capacidade de dizer adeus, de me despedir docemente daquilo que antes recebi com um esperançoso “olá”. Sinto em mim luto de algo que não chegou a ser corpóreo, mas que foi algo suficientemente intenso para o meu peito mergulhar de cabeça, bater com o queixo no fundo da piscina e afogar-se em saudade.


Para existir um corte de uma sequência tem que existir sempre algo que lhe suceda. A minha continuidade encontra a sua cama na descontinuidade. Se tal não acontecesse, não existiria nenhuma das duas no meu universo metafísico.


Só existiria


Branco.


Silêncio.


Vazio.


Se não existir algo para substituir o que lhe antecedeu; se a minha mente já não conseguir inventar mais; se eu não puder multiplicar-me e eliminar o que fui; se já não conseguir saborear este espaço entre eu e mim mesma; se a minha alma já não me procurar; se eu já não andar a monte - o meu cérebro deixará de cheirar a laranjas e de ter uma música.


Ficará sem cheiro.


O silêncio permanente vai fazer com que pare de estar tonta com tantas voltas dadas no carrossel da metafísica. Vai matar as insónias e fazer com que eu, finalmente, consiga adormecer sobre mim mesma.


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