desenhava estrelas atrás da tua orelha
- Sofia Dias
- 29 de ago. de 2022
- 1 min de leitura
Por ti, atravessava Lisboa a pé com os maiores saltos do mundo; comprava todos os donuts da pastelaria; virava bola de espelhos para te iluminar e te ver dançar; desenhava estrelas atrás da tua orelha; aprendia a cozinhar; começava a beber café com leite vegetal, porque sei que não gostas quando me dói a barriga, por causa do leite de vaca; pintava o teu céu de todas as cores; dava-te quilos de grão; raptava o Chico Buarque para te cantar todos os dias; sorria com os dentes todos para as fotografias; via os teus filmes a preto e branco; aprendia a tocar um instrumento; fingia gostar de tartes despedaçadas; aprendia Mandarim se te quisesses mudar para a China; esgotava o stock nacional de vinho branco; adormecia no fundo da tua piscina; abarcava o teu barco nas noites escuras; usava mais vezes o vestido preto bonito; fazia com que dormisses sempre com o lado frio da almofada; lia todos os teus livros de gente inteligente; acordava cedo; parava o trânsito para chegares a tempo ao trabalho; dedicava-te todos os meus textos, todas as minhas palavras seriam tuas, por mais insignificantes que elas sejam.
Só não me peças que morra por ti ou pior - que deixe crescer a franja e ela desapareça. Não gosto de fatalidades.
Faço tudo o resto, enquanto alimentares as borboletas da minha barriga e enquanto não te cansares das minhas aventuras.
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