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Carta de Amor ao Pedro da Secundária

  • Foto do escritor: Sofia Dias
    Sofia Dias
  • 15 de ago. de 2022
  • 1 min de leitura

Querido Pedro,


Venho falar-te do assunto que deixa todos os poetas acordados à noite, as velhinhas curiosas e as barrigas doridas. Já adivinhaste qual é? Ainda não? Vou dar-te mais uma pista. É aquela coisa que “quando se revela não se sabe revelar”. Custa desvendá-la, custa descobri-la, quanto mais contá-la. Explicá-la é a coisa mais difícil no mundo e a mais fácil ao mesmo tempo. Estou a ser paradoxal, eu sei, mas a coisa também o é. Coisa misteriosa esta… Toda a gente que é gente a conhece.


Para muitos é uma coisa enfadonha e que não merece ser digna de palavras – “Para quê escrever sobre o amor (ups, escapou), se é mais útil escrever sobre coisas muito mais importantes e dignas, como os escalões do IRS?”. O amor já não é matéria dita “intelectual”, porque um curso não te vai fazer entendê-lo.


Descrevo-te com frases ocas o que é o amor e falho e falharei sempre, porque quando falo parece que minto. O amor não precisa de fazer sentido para ser sentido. Prefiro sofrê-lo a cogitá-lo. Acho que cogitar o amor é coisa de Ricardo Reis, que se lhe aplicarmos as regras da lógica, chegamos à conclusão de que não devemos enlaçar as mãos com ninguém, porque isso é muito cansativo. Mas, eu gosto de me cansar, prefiro cansar-me a ficar a ver o rio passar. Sempre gostei mais de Álvaro de Campos. Ensinou-me que as cartas de amor são ridículas, mas também é ridículo aquele que não as escreve.


E, tu, Pedro, escreves cartas de amor?


Da tua colega do lado nas aulas de Português,


Catarina.

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