arranquei o "gosto de ti"
- Beatriz Pereira
- 21 de nov. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 6 de jan. de 2023
"Eu gosto de ti” é uma frase tão preguiçosa. Quer manter-se sempre no conforto do meu pensamento, sem sair para o mundo exterior; sem se mostrar desnuda aos olhos a que sabe que se deve dirigir.
Oh! E quando a conexão com alguém é súbita! A frase, teimosa, esconde-se num recanto escuro, afirmando que a pessoa já sabe que ela existe. “Não é preciso eu sair daqui! Esses olhos nunca me viram, mas sabem da minha existência!”. Iludida, a frase. Não sabe ela que todas as pequenas pupilas humanas gostam de a ver, vezes e vezes sem conta. Repetidamente. Seja a conexão súbita ou emergente, imortal ou passageira.
É, então, que tenho de entrar no meu pensamento e puxá-la cá para fora – por um braço, perna ou pata. Convenço-a que quero – que preciso – da sua liberdade. Digo-lhe que há olhos que a querem ver. Digo-lhe que tu precisas de a ver. E ela diz-me que sim, que aceita pisar este mundo forasteiro, repleto do desconhecido, por ti.
No caminho, pede-me que lhe explique as tais “conexões súbitas” – aquelas que a fazem acordar estremunhada e em momentos inoportunos. Estremeço. É principalmente difícil atribuir-lhes sentido. São tão únicas e especiais, sabes? São o encontro de alguém que me faz sorrir de forma estúpida. São a manifestação material daquele nada que diz tudo; o encontro de uma pequena réstia de esperança nas relações humanas, depois de dezenas e dezenas de interações sociais fracassadas.
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